Desde o lançamento do ChatGPT, há quase três anos, o impacto da inteligência artificial (IA) na educação tem sido tema de intensos debates. De um lado, a promessa de uma aprendizagem personalizada; de outro, o risco de fomentar a desonestidade acadêmica e reduzir a capacidade de pensamento crítico dos estudantes.
Um estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, reacendeu essa discussão ao apontar que o uso do ChatGPT para escrever redações pode levar a um “déficit cognitivo” e à “provável diminuição da capacidade de aprendizagem”.
O experimento: cérebro vs. IA
Durante quatro meses, os pesquisadores acompanharam 54 adultos que escreveram três redações sob diferentes condições: com ajuda do ChatGPT, utilizando um mecanismo de busca ou apenas com seus próprios conhecimentos (sem apoio de tecnologia). O objetivo era medir o nível de engajamento cognitivo, analisando tanto a atividade cerebral quanto a complexidade linguística dos textos produzidos.
Os resultados foram claros: os participantes que usaram IA apresentaram menor engajamento cerebral, lembraram-se com mais dificuldade do conteúdo que escreveram e relataram menos senso de autoria em relação aos seus textos.
Em uma quarta etapa, os grupos trocaram de estratégia: quem antes usava IA passou a escrever por conta própria e vice-versa. O grupo que deixou de usar IA teve desempenho inferior, com níveis de engajamento semelhantes aos da primeira sessão. Já quem passou a utilizar o ChatGPT demonstrou uso mais estratégico da ferramenta — em parte, por já ter familiaridade com o tema.
Cautela com as conclusões
Apesar dos dados alarmantes, os próprios autores reconhecem que as conclusões são preliminares. Apenas 18 participantes completaram a última etapa, o que limita a validade estatística dos achados. Além disso, especialistas apontam que a menor performance do grupo que trocou IA por “cérebro” pode ser explicada por um fator conhecido como “efeito de familiarização”.
Como os participantes que escreveram sem IA ao longo das três primeiras sessões já estavam adaptados à tarefa, seu desempenho naturalmente foi melhor. Já o grupo que usou IA, ao redigir um texto sem assistência apenas na última etapa, não teve tempo para desenvolver essa familiaridade.
O paralelo com a chegada das calculadoras
Para contextualizar o impacto da IA na educação, é útil lembrar da introdução das calculadoras eletrônicas na década de 1970. Na época, a solução não foi banir a tecnologia, mas sim adaptar os exames para exigir raciocínios mais complexos, elevando o nível das avaliações.
Da mesma forma, especialistas sugerem que o uso de ferramentas como o ChatGPT deve ser encarado como uma oportunidade para repensar métodos de avaliação e estimular habilidades de análise, interpretação e curadoria da informação.